Georges Simenon era um favorito do meu pai, especialmente os livros do Inspetor Maigret. Durante a década de 80, a Nova Fronteira publicou 20 dos romances policiais do inspetor e, claro, comprávamos à medida que apareciam nas livrarias. Prolífico escritor, Simenon publicou 75 novelas e 28 contos em que Maigret aparecia. Os 20 volumes então publicados estão sob a guarda da Maria Fernanda e, de vez em quando, vamos até lá matar as saudades.
Maigret é um personagem extraordinário: quanto mais leio, mais acredito que os bons escritores são aqueles que gastam menos palavras - buscam, selecionam, escolhem a pertinência do vocábulo e, em poucas linhas, caracterizam personagens, descrevem ambientes e narram os fatos pertintentes. Simenon tem essa habilidade e consegue criar um homem, inspetor-chefe da Polícia Judiciária Francesa, com reputação de excelência nas investigações que faz, e vida própria: é casado, come e bebe.
Comer e beber são atividades prazerosas desse comissário. As refeições são descritas nas novelas e as preferências da personagem são devidamente explícitas: seu aperitivo preferido é o calvados - um destilado à base de maçã, originária da Baixa Normandia, com denominação de origem controlada (como o champagne), e sua bebida é a cerveja. Mas o grande prazer do inspetor é a comida. Aliás, a Sra. Maigret muito citada mas poucas vezes em ação é exímia cozinheira.
Meu pai compartilhava com o inspetor o prazer da mesa e sua curiosidade foi aguçada numa das novelas em que Maigret se deliciava com um coq au vin, num pequeno restaurante no interior da França. E toca a pesquisar como fazê-lo. Acostumados que estamos em colocar no google o objeto de nossas pesquisas e recebermos, em segundos, várias páginas em que se menciona o assunto, não nos lembramos mais de como era fazer pesquisa em livros e bibliotecas.
Ocorre que minha avó materna teve um marido muito exigente com suas refeições - no mínimo três pratos salgados e duas sobremesas e D. Ilka dava conta do recado. Num dos livros herdados, cuja autora se chama Rosa Maria, da década de trinta, havia um Galo à moda de Bourgogne, como segue:
"Tome um galo novo, de boa raça e prepare (sal, limão, pimenta-do-reino). Deite numa panela 2 colheres de sopa de manteiga, alguns quadradinhos de toucinho fresco e leve a fritar para então juntar o galo, com um pouco de sal, pimenta do reino e um ramo de cheiro, e deixe fritar até ficar bem dourado. Polvilhe com uma colher de farinha de trigo, junte umas 30 cebolinhas bem pequenas, um copo de vinho Bourgogne, outro de água e deixe cozinhando em fogo brando por duas ou três horas. Junte algumas trufas ou champignons em rodelas. Arrume no prato os pedaços de galo, e deite no centro as cebolinhas e os champignons, com o molho grosso."
Houve outros livros, outras buscas, mas vocês não fazem ideia da delícia que foi sair com meu pai, comprar os ingredientes e testar a receita. Galo de verdade, nunca fizemos - usamos frango. Nem trufas, só cogumelos. Mas fica muito bom.
Simenon, Georges. A velha senhora. 1ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1979.
Comer e beber são atividades prazerosas desse comissário. As refeições são descritas nas novelas e as preferências da personagem são devidamente explícitas: seu aperitivo preferido é o calvados - um destilado à base de maçã, originária da Baixa Normandia, com denominação de origem controlada (como o champagne), e sua bebida é a cerveja. Mas o grande prazer do inspetor é a comida. Aliás, a Sra. Maigret muito citada mas poucas vezes em ação é exímia cozinheira.
Meu pai compartilhava com o inspetor o prazer da mesa e sua curiosidade foi aguçada numa das novelas em que Maigret se deliciava com um coq au vin, num pequeno restaurante no interior da França. E toca a pesquisar como fazê-lo. Acostumados que estamos em colocar no google o objeto de nossas pesquisas e recebermos, em segundos, várias páginas em que se menciona o assunto, não nos lembramos mais de como era fazer pesquisa em livros e bibliotecas.
Ocorre que minha avó materna teve um marido muito exigente com suas refeições - no mínimo três pratos salgados e duas sobremesas e D. Ilka dava conta do recado. Num dos livros herdados, cuja autora se chama Rosa Maria, da década de trinta, havia um Galo à moda de Bourgogne, como segue:
"Tome um galo novo, de boa raça e prepare (sal, limão, pimenta-do-reino). Deite numa panela 2 colheres de sopa de manteiga, alguns quadradinhos de toucinho fresco e leve a fritar para então juntar o galo, com um pouco de sal, pimenta do reino e um ramo de cheiro, e deixe fritar até ficar bem dourado. Polvilhe com uma colher de farinha de trigo, junte umas 30 cebolinhas bem pequenas, um copo de vinho Bourgogne, outro de água e deixe cozinhando em fogo brando por duas ou três horas. Junte algumas trufas ou champignons em rodelas. Arrume no prato os pedaços de galo, e deite no centro as cebolinhas e os champignons, com o molho grosso."
Houve outros livros, outras buscas, mas vocês não fazem ideia da delícia que foi sair com meu pai, comprar os ingredientes e testar a receita. Galo de verdade, nunca fizemos - usamos frango. Nem trufas, só cogumelos. Mas fica muito bom.
Simenon, Georges. A velha senhora. 1ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1979.
Ufa, até que enfim! Mas valeu à pena esperar. Faz tempo que não fazemos um coq au vin, tá na hora de prestigiarmos o papai. Beijos, Fi
ResponderExcluirVamos fazer um Galo à moda de Bourgogne????? Eu e a Tô estamos com saudades dos almoços de família...
ResponderExcluirMAD
Este galo à bourgogne está ótimo. Pode contar com o vinho e as cebolinhas
ResponderExcluirPrestigiar Tio Murilo ?! Dou o maior apoio. Pena que só vou sentir o cherinho beeem de looonge. Mas quando eu for aí vou levar vinho e a gente prestigia (assim que escreve isso ?) de novo. :o)) Beijos !
ResponderExcluirTem sido uma delícia acompanhar seu blog.Quanta saudade!!!!!
ResponderExcluirBeijo enorme
Luciana
Você inicia seu blog com linda e emocionada homenagem a seus pais. Sinto enorme prazer em ler seus textos.
ResponderExcluirBeijocas
EM TEMPO ! Minha querida irmã mais velha ME TELEFONOU para me chamar atenção. 'Voce escreveu errado outra coisa... E logo no blog da CRISTINA !?!?!' Então, voltei aqui para me explicar. Não foi por ignorância, não. Foi pura displicência. Então, corrigindo: '.... cheIrinho beeem de looonge...' Professoras são FO-GO !!! SORRY... Abraço !
ResponderExcluirGostei muito do seu blog. Vou fazer este Coq. E quero mandar MIL beijos para a Maria Clara e para vocês. Saudades.
ResponderExcluirCristina,
ResponderExcluirFoi emocionante nosso reencontro. Depois de um espaço de silêncios, sem culpas, eis-nos aqui continuando nossos papos e com iguais mudanças.
Seu blog é lindo e você se revela uma excelente
cronista. Sabia-a, sim, contadora de histórias.
Continue, amiga. Escreva cada vez mais, que precisamos lutar com palavras, como dizia Drummond.
Mary Castilho