Na década de 60, um grupo de escritores, jornalistas e doidos de pedra resolveu fazer um suplemento cultural no jornal carioca O dia. Era um jornal do qual jorrava sangue se o espremessem. Daí o inusitado da proposta. Não me lembro bem, mas acho que o suplemento não durou sequer um ano. Minha mãe foi convidada a escrever uma coluna semanal cujo nome era De livros & de mulheres, daí o nome deste blog.
Maria Clara Pinheiro Guimarães - era assim que ela assinava a coluna - já tinha seus cinco filhos e muito tempo na estrada dos livros. Leitora voraz e inteligente, teria sido uma boa crítica literária se se permitisse a tanto. Era leitora de vasto espectro, mas gostava especialmente de literatura inglesa e americana. Ela quem me introduziu a Jane Austen, Charles Dickens, Oscar Wilde, Conan Doyle, Daniel Dafoe, Evelyn Waugh, Virginia Wolf, Daphne du Maurier, Iris Murdoch; aos americanos Hemingway, Scott Fitgerald, Mark Twain, Gore Vidal, Philip Roth, - e tantos outros que descobrimos juntas - Doris Lessing, Truman Capote, Raymond Chandler, Dashiel Hammet, P. D. James - a lista é enorme.
Maria Clara era também cinéfila e gostava de quase todos os gêneros: policial, aventura, espionagem (Sean Connery era um de seus favoritos), faroeste - tão eclética no gosto cinematográfico quanto no literário.
Clarinha costurava, bordava, fazia tapeçaria e cozinhava - sempre muito bem. Não havia tarefa a que se propusesse fazer que não fizesse com extremo zelo e capricho. Tudo o que saía de suas mãos tinha acabamento perfeito. Houve uma época em que se dedicou a fazer aventais de algodão cru: numa época em que cozinhar ainda não era moda, produziu peças lindas, com acabamento de sinhaninha colorida em toda a volta do avental e um monograma em tons degradês da mesma cor da sinhaninha. Todas as mulheres, cozinheiras ou não, queriam ter um.
Por que escrever no passado? Muita gente não entende isso, mas mamãe tem mal de Alzheimer e já não se lembra de quem é, e a Maria Clara que amei e que foi minha grande interlocutora a vida inteira, não existe mais. A vida é má e injusta. Mas temos que vivê-la.
Clarinha costurava, bordava, fazia tapeçaria e cozinhava - sempre muito bem. Não havia tarefa a que se propusesse fazer que não fizesse com extremo zelo e capricho. Tudo o que saía de suas mãos tinha acabamento perfeito. Houve uma época em que se dedicou a fazer aventais de algodão cru: numa época em que cozinhar ainda não era moda, produziu peças lindas, com acabamento de sinhaninha colorida em toda a volta do avental e um monograma em tons degradês da mesma cor da sinhaninha. Todas as mulheres, cozinheiras ou não, queriam ter um.
Por que escrever no passado? Muita gente não entende isso, mas mamãe tem mal de Alzheimer e já não se lembra de quem é, e a Maria Clara que amei e que foi minha grande interlocutora a vida inteira, não existe mais. A vida é má e injusta. Mas temos que vivê-la.
Adorei e principalmente que não ficou só na intenção, fiquei emocionada com olhos cheio de águas.É muito bom relembra.O texto gostoso de ler. Duda
ResponderExcluirQuero mais e mais e mais!!!
ResponderExcluirEscreva tudo, escreva sem parar!
Quero mais aqui (ou na mesa de bar) ;)
Ih, rimou!
Beijocas! Welcome!
Você sabe emocionar, sempre. E se, hoje, a interlocutora que amava não mais existe, tudo de terno e doce que ela semeou em você ainda floresce.
ResponderExcluirComo é bom poder ler suas histórias. E quanto orgulho tenho de ser, mais que sua eterna aluna, sua amiga.
Linda estreia. Já ansiosa pelo próximo texto (e pela aprendizagem que certamente ele me trará).
Beijo grande, Bévis :)
Marisa (não sei criar minha identidade prá comentar aqui... ainda, rs)
Cristina, é muito bom poder ler suas impressões sobre "livros e gente". E já começou lindamente com o texto sobre a tia, uma mulher admirável e adorável.
ResponderExcluirBjocas,
Tita
Cris, um deleite. O blog é um diário dos corajosos que podem ser, na verdade, mentirosos com criatividade. Enquanto estive em Londres, podendo contar somente com os minguados - e suados - minutos de lan house, além de ter de enfrentar a barreira da "acentuacao", escrevi um diário de viagem, cujo nome é Tão perto, tão Londres. Keep writing, it's lovely!
ResponderExcluirCris, dá vontade de continuar a ler e ler e ler....escreva mais....quero mais, que leitura agradável, terna e doce. Mas tinha quer ser... afinal trata-se da linda Maria Clara.
ResponderExcluirOi Cris. Impecável, doce e preciso. Assim como a Duda, fiquei com os olhos rasos d'água. Dê-nos mais emoções é disso que precisamos. Beijos, Fi.
ResponderExcluirBevis,
ResponderExcluirÉ mto bom ser sua leitora.....escreva mais e mais .
Bjs
Marisa Minchillo
P.S. minha mãe tb tem mal de Alzheimer
sua mãe parece ser uma mulher incrível e o jeito com que você fala dela é muito bonito, Cris! dá pra ver muito amor mas também muita sinceridade, sem "sugarcoatismo" nenhum (pra entrar na vibe da nossa discussão via Twitter de hoje xD)
ResponderExcluiro Alzheimer é mesmo uma doença muito triste. Minha vó sofre dela mas minha relação com a doença (e com a pessoa acometida) é diferente.
Continue nos escrevendo.
ResponderExcluirProfa.
ResponderExcluirPor coincidência minha filha que nascerá em abril chamar-se-á Maria Clara: oxalá seja como sua predecessora.
bjos e força para continuar a escrever, estou adorando
Se os olhos da Fê e da Duda ficaram cheios de lágrimas, nos meus elas transbordaram.
ResponderExcluirAdorei...
Alice
Cara Maria Cristina:
ResponderExcluirUma beleza seu blog: leve, instrutivo e simpático. Com saudades, a convivência passada me toma. Não poderia ser diferente. Grande abraço a todos, com todo meu afeto.
Falcão
Cris,
ResponderExcluirquando a saudade aperta entro no seu blog e me delicio com a sua escrita.
bjs
Isabel