segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Maria Clara Pinheiro Guimarães

Na década de 60, um grupo de escritores, jornalistas e doidos de pedra resolveu fazer um suplemento cultural no jornal carioca O dia. Era um jornal do qual jorrava sangue se o espremessem. Daí o inusitado da proposta. Não me lembro bem, mas acho que o suplemento não durou sequer um ano. Minha mãe foi convidada a escrever uma coluna semanal cujo nome era De livros & de mulheres, daí o nome deste blog.

Maria Clara Pinheiro Guimarães - era assim que ela assinava a coluna - já tinha seus cinco filhos e muito tempo na estrada dos livros. Leitora voraz e inteligente, teria sido uma boa crítica literária se se permitisse a tanto. Era leitora de vasto espectro, mas gostava especialmente de literatura inglesa e americana. Ela quem me introduziu a Jane Austen, Charles Dickens, Oscar Wilde, Conan Doyle, Daniel Dafoe, Evelyn Waugh, Virginia Wolf, Daphne du Maurier, Iris Murdoch; aos americanos Hemingway, Scott Fitgerald, Mark Twain, Gore Vidal, Philip Roth, - e tantos outros que descobrimos juntas - Doris Lessing, Truman Capote, Raymond Chandler, Dashiel Hammet, P. D. James - a lista é enorme.

Maria Clara era também cinéfila e gostava de quase todos os gêneros: policial, aventura, espionagem (Sean Connery era um de seus favoritos), faroeste - tão eclética no gosto cinematográfico quanto no literário.

C
larinha costurava, bordava, fazia tapeçaria e cozinhava - sempre muito bem. Não havia tarefa a que se propusesse fazer que não fizesse com extremo zelo e capricho. Tudo o que saía de suas mãos tinha acabamento perfeito. Houve uma época em que se dedicou a fazer aventais de algodão cru: numa época em que cozinhar ainda não era moda, produziu peças lindas, com acabamento de sinhaninha colorida em toda a volta do avental e um monograma em tons degradês da mesma cor da sinhaninha. Todas as mulheres, cozinheiras ou não, queriam ter um.

P
or que escrever no passado? Muita gente não entende isso, mas mamãe tem mal de Alzheimer e já não se lembra de quem é, e a Maria Clara que amei e que foi minha grande interlocutora a vida inteira, não existe mais. A vida é má e injusta. Mas temos que vivê-la.

14 comentários:

  1. Adorei e principalmente que não ficou só na intenção, fiquei emocionada com olhos cheio de águas.É muito bom relembra.O texto gostoso de ler. Duda

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  2. Quero mais e mais e mais!!!
    Escreva tudo, escreva sem parar!
    Quero mais aqui (ou na mesa de bar) ;)

    Ih, rimou!

    Beijocas! Welcome!

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  3. Você sabe emocionar, sempre. E se, hoje, a interlocutora que amava não mais existe, tudo de terno e doce que ela semeou em você ainda floresce.
    Como é bom poder ler suas histórias. E quanto orgulho tenho de ser, mais que sua eterna aluna, sua amiga.
    Linda estreia. Já ansiosa pelo próximo texto (e pela aprendizagem que certamente ele me trará).
    Beijo grande, Bévis :)

    Marisa (não sei criar minha identidade prá comentar aqui... ainda, rs)

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  4. Cristina, é muito bom poder ler suas impressões sobre "livros e gente". E já começou lindamente com o texto sobre a tia, uma mulher admirável e adorável.
    Bjocas,
    Tita

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  5. Cris, um deleite. O blog é um diário dos corajosos que podem ser, na verdade, mentirosos com criatividade. Enquanto estive em Londres, podendo contar somente com os minguados - e suados - minutos de lan house, além de ter de enfrentar a barreira da "acentuacao", escrevi um diário de viagem, cujo nome é Tão perto, tão Londres. Keep writing, it's lovely!

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  6. Cris, dá vontade de continuar a ler e ler e ler....escreva mais....quero mais, que leitura agradável, terna e doce. Mas tinha quer ser... afinal trata-se da linda Maria Clara.

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  7. Oi Cris. Impecável, doce e preciso. Assim como a Duda, fiquei com os olhos rasos d'água. Dê-nos mais emoções é disso que precisamos. Beijos, Fi.

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  8. Bevis,

    É mto bom ser sua leitora.....escreva mais e mais .

    Bjs
    Marisa Minchillo

    P.S. minha mãe tb tem mal de Alzheimer

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  9. sua mãe parece ser uma mulher incrível e o jeito com que você fala dela é muito bonito, Cris! dá pra ver muito amor mas também muita sinceridade, sem "sugarcoatismo" nenhum (pra entrar na vibe da nossa discussão via Twitter de hoje xD)

    o Alzheimer é mesmo uma doença muito triste. Minha vó sofre dela mas minha relação com a doença (e com a pessoa acometida) é diferente.

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  10. Profa.
    Por coincidência minha filha que nascerá em abril chamar-se-á Maria Clara: oxalá seja como sua predecessora.
    bjos e força para continuar a escrever, estou adorando

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  11. Se os olhos da Fê e da Duda ficaram cheios de lágrimas, nos meus elas transbordaram.
    Adorei...
    Alice

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  12. Cara Maria Cristina:
    Uma beleza seu blog: leve, instrutivo e simpático. Com saudades, a convivência passada me toma. Não poderia ser diferente. Grande abraço a todos, com todo meu afeto.

    Falcão

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  13. Isabel Maria P Santos12 de outubro de 2010 às 23:32

    Cris,
    quando a saudade aperta entro no seu blog e me delicio com a sua escrita.
    bjs
    Isabel

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